Carla Cerqueira abre e Isabel Macedo encerra Ciclo de Cinema Luso-Galego

Carla Cerqueira e Isabel Macedo participaram no ciclo de cinema Luso-Galego, nos dias 3 e 17 de maio, respetivamente. O ciclo de cinema procurou promover o intercâmbio cultural entre a Galiza e o Norte de Portugal e apostou em temáticas transversais e atuais.

A primeira sessão, que contou com a presença da investigadora do CECS, Carla Cerqueira, foi dedicada ao papel das mulheres no cinema. Debateram-se questões relacionadas com a presença das mulheres no meio audiovisual, nomeadamente enquanto produtoras na área cinematográfica, tendo-se analisado as curtas-metragens visionadas na sessão numa perspetiva de género. “As duas [curtas-metragens] abordavam algumas das desigualdades de género que ainda persistem”, afirmou Carla Cerqueira, referindo as semelhanças entre o contexto galego e minhoto visíveis nas narrativas apresentadas nas duas curtas-metragens. “Além das desigualdades de género, falou-se das desigualdades de classe, do envelhecimento, da relação das pessoas com a natureza”, completou a investigadora do CECS. A presença de intervenientes ligadas às questões de género e aos média e dos realizadores das curtas-metragens promoveu a discussão do ponto de vista de quem produz e de quem visualiza.

Carla Cerqueira fez o balanço da sessão em que participou, referindo que esta permitiu “conhecer o trabalho cinematográfico que está a ser feito aqui ao lado, na Galiza” e “perceber que existem muitas semelhanças que permitem até fazer trabalhos de investigação conjuntos tendo como enfoque as questões de género e as desigualdades que são vivenciadas pelas mulheres”. A investigadora referiu, ainda, que a área do cinema é uma das que lhe tem interessado recentemente e que com este evento começou já a delinear outros trabalhos neste campo.

A sessão de encerramento deste ciclo de cinema também contou com a presença do CECS, através da participação da investigadora Isabel Macedo. Dedicada ao tema “Sociedade”, a sessão procurou debater a longa-metragem “Arraianos”, um filme entre a ficção e o documentário, entre Galiza e Portugal.

As presenças de Isabel Macedo, doutorada em Estudos Culturais, da antropóloga Cristina Sánchez Carretero e da produtora do filme, Beli Martínez permitiram discutir a produção de “Arraianos”. Nesta longa-metragem, cenas de uma peça teatral são combinadas com o quotidiano de pessoas de uma região fronteiriça. Alternando momentos de ficção e realidade, este filme apresenta a relação estreita que se estabelece nesta comunidade entre as pessoas, os animais e as paisagens. Realidade, mitos e sonhos parecem fundir-se nesta obra inspirada na peça O Bosque, de Jenaro Marinhas del Valle.

Isabel Macedo cita Marinhas del Valle (1977, p. 318) a propósito desta peça: “É importante perguntar, a resposta é o que não tem importância. […] as respostas murcham, avelhentam, apodrecem… São efémeras, de pouca dura, tornam-se inúteis. Por outro lado, as perguntas… essas sim são eternas!”. Do mesmo modo, a investigadora considera que neste filme há pontos, não existe uma narrativa linear. Coloca-se no público a liberdade de interpretação do filme.

“Arraianos” constitui um importante contributo na preservação da memória e da cultura popular. Canções, músicas tradicionais, cantadas em português e em galego, e mitos e histórias que desconhecemos, apresentam-nos, segundo a investigadora, uma espécie de fábula sobre o mundo rural. Neste filme, sem voz off, o som e o processo de montagem de belas imagens foi muito importante. Nesta construção, como referiu a produtora, reescreve-se e reinventa-se o filme.