Por que é que escolheu o CECS para o desenvolvimento deste trabalho?
Escolhi o CECS e a Universidade do Minho pelo prestígio da sua investigação e das atividades que aqui se realizam na área de educação para os média. Conheci o trabalho da professora Sara Pereira através do meu orientador, o professor Joan Ferrés, e também pelo projeto internacional “Transliteracy”, que é dirigido desde a UPF pelo professor Carlos Scolari.
Que razões o levaram a trabalhar com um público tão jovem?
Trabalhei na área da comunicação na Fundación Integra, em Santiago do Chile. Esta fundação, que é estatal, tem cerca de mil jardins-de-infância em todo o país. Nessa altura, percebi o papel decisivo que a educação tem nestes ambientes e a importância que os meios de comunicação podem desempenhar com as crianças.
Estas crianças são verdadeiros nativos digitas, como se costuma pensar?
Existem etiquetas diferentes para nos referirmos a crianças que nasceram desde a massificação da Internet, como a Geração Z, a Geração Google. Parece-me que todas as crianças que nasceram depois de 2000 são nativos digitais, porque já estávamos em plena era digital. Mas essa designação define apenas o contexto em que elas nasceram, não significa que saibam relacionar-se com os meios de comunicação. É verdade que, de forma geral, estes nativos digitais sabem bem como se utiliza a tecnologia, muito melhor que as gerações anteriores, mas isso não quer necessariamente dizer que estejam mais bem preparadas para enfrentar os problemas que começam a aparecer, como por exemplo o vício de estar agarrado ao telemóvel.
Que dificuldades encontra neste trabalho com este público?
Esta investigação trabalha indiretamente com as crianças, uma vez que preferi estudar a formação dos educadores. No futuro, talvez venha a trabalhar com elas, mas para já queria focar-me nas discussões éticas, nas dificuldades do processo educativo.
Uma criança de 3 anos, ou mesmo de 6, consegue compreender o conceito de “Educação para os Média”?
A educação inicial sempre foi observada de forma pejorativa, uma vez que vivemos num mundo em que a educação escolar tem sempre de dar um determinado resultado visível. Isso acontece no ensino primário e nos jardins-de-infância. No entanto, desde a década de 1990 que a neurociência demonstra que os primeiros seis anos são uma etapa crucial para a aprendizagem, em especial para a linguagem e as capacidades socio-emocionais. Não sei se uma criança conseguirá entender esse conceito. O importante é compreender que emoções e discursos as crianças partilham sobre os meios de comunicação.