Entrevista com Pablo Andrada Sola

“A expressão ‘nativos digitais’ apenas define o contexto, não significa que as crianças saibam relacionar-se com os média”

Pablo Andrada Sola vai estar até 30 de junho de 2017 no CECS a realizar uma estância de investigação integrada no projeto de doutoramento que desenvolve na Universidade Pompeu Fabra (UPF), em Barcelona (Espanha). Com o título “Formação docente em Educação para os Média na Educação Infantil no Chile”, procura conhecer o trabalho dos investigadores do CECS sobre esta área, nomeadamente a atividade “Sete Dias com os Média”.

Por que é que escolheu o CECS para o desenvolvimento deste trabalho?

Escolhi o CECS e a Universidade do Minho pelo prestígio da sua investigação e das atividades que aqui se realizam na área de educação para os média. Conheci o trabalho da professora Sara Pereira através do meu orientador, o professor Joan Ferrés, e também pelo projeto internacional “Transliteracy”, que é dirigido desde a UPF pelo professor Carlos Scolari.

Que razões o levaram a trabalhar com um público tão jovem?

Trabalhei na área da comunicação na Fundación Integra, em Santiago do Chile. Esta fundação, que é estatal, tem cerca de mil jardins-de-infância em todo o país. Nessa altura, percebi o papel decisivo que a educação tem nestes ambientes e a importância que os meios de comunicação podem desempenhar com as crianças.

Estas crianças são verdadeiros nativos digitas, como se costuma pensar?

Existem etiquetas diferentes para nos referirmos a crianças que nasceram desde a massificação da Internet, como a Geração Z, a Geração Google. Parece-me que todas as crianças que nasceram depois de 2000 são nativos digitais, porque já estávamos em plena era digital. Mas essa designação define apenas o contexto em que elas nasceram, não significa que saibam relacionar-se com os meios de comunicação. É verdade que, de forma geral, estes nativos digitais sabem bem como se utiliza a tecnologia, muito melhor que as gerações anteriores, mas isso não quer necessariamente dizer que estejam mais bem preparadas para enfrentar os problemas que começam a aparecer, como por exemplo o vício de estar agarrado ao telemóvel.

Que dificuldades encontra neste trabalho com este público?

Esta investigação trabalha indiretamente com as crianças, uma vez que preferi estudar a formação dos educadores. No futuro, talvez venha a trabalhar com elas, mas para já queria focar-me nas discussões éticas, nas dificuldades do processo educativo.

Uma criança de 3 anos, ou mesmo de 6, consegue compreender o conceito de “Educação para os Média”?

A educação inicial sempre foi observada de forma pejorativa, uma vez que vivemos num mundo em que a educação escolar tem sempre de dar um determinado resultado visível. Isso acontece no ensino primário e nos jardins-de-infância. No entanto, desde a década de 1990 que a neurociência demonstra que os primeiros seis anos são uma etapa crucial para a aprendizagem, em especial para a linguagem e as capacidades socio-emocionais. Não sei se uma criança conseguirá entender esse conceito. O importante é compreender que emoções e discursos as crianças partilham sobre os meios de comunicação.

Entrevista realizada por Ricardina Magalhães
Créditos da foto: Vítor Sousa