As transformações culturais e o campo da cultura na era digital

“Is the digital revolution a cultural revolution?” foi o título da palestra que Rémy Rieffel, investigador da Universidade de Paris, apresentou no passado dia 9 de abril.

Rémy Rieffel problematizou os limites das transformações culturais que afetam a cultura na era digital. A apresentação retomou a visão de campo cultural, de Pierre Bourdieu, para refletir sobre as mudanças vividas nesta área com a disseminação sobretudo dos novos média, com as redes sociais. De um lado, Rieffel apresentou elementos defendidos por otimistas, entre eles Henry Jenkins, que consideram que a cultura da convergência amplia a participação. Por outro lado, o autor destacou a desconfiança de investigadores que enfatizam os aspetos negativos da era digital, especialmente o monitoramento que se cria sobre os indivíduos, restringindo a liberdade, nos moldes do que previu George Orwell na obra “1984”.

Rieffel identificou três mudanças principais no campo cultural ensejadas pelos novos média: uma mudança nas formas de visibilidade, que está diretamente associada a uma economia dos likes e das partilhas, evidenciando disputas pela popularidade, pela autoridade, pela reputação e pela predileção; o crescimento de uma cultura híbrida, que aproxima e até mistura diferentes dimensões culturais, estilos, como o erudito e o popular; e o crescimento de uma cultura participativa e colaborativa na produção cultural, o que se efetiva por exemplo pelo uso de licenças livres (Creative Commons).

Para o investigador as desigualdades de acesso e de participação no campo cultural não mudaram no ambiente digital. O que significa que as transformações se deram principalmente nas formas de produção e de difusão, mas não ocorreram nas relações de poder. E mesmo o impacto dessas mudanças não é homogêneo. Para o autor, é mais adequado falar de uma nova configuração cultural, mas não necessariamente numa revolução, pois este ainda é um trabalho em progresso.

Rieffel argumenta que a própria ideia de que tudo mudou com a revolução digital é uma ideologia. Afinal, estamos conectados como previu Marshall McLuhan, formando uma grande aldeia global, mas o comportamento do homem não mudou por causa das tecnologias.

A presença de Rémy Rieffel em Portugal resultou da sua visita à Universidade do Minho enquanto membro da Comissão de Acompanhamento Externa do programa doutoral em Estudos de Comunicação: Tecnologia, Cultura e Sociedade.