A pertinência de uma abordagem que atente para as múltiplas formas de opressão e privilégio que marcam o quotidiano das pessoas, da comunicação e dos média marcou o seminário “Género, Interseccionalidade e Comunicação”. O evento realizado no dia 26 de Outubro, promovido pela APEM – Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres e com o apoio institucional do CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, juntou uma sala cheia de investigadoras/es e estudantes na Universidade Lusófona do Porto.
O seminário iniciou com palavras de acolhimento e da importância da temática, numa sociedade marcada por múltiplas desigualdades sociais e em que os média possuem um papel central.
A primeira parte do seminário contou com a conferência proferida pelo investigador Cristian Norocel, da Universidade Livre de Bruxelas, “Intersectional Perspectives on Political Communication: The Case of Populist Radical Right Discourses in Europe”, em que se explorou os casos da Roménia e Suécia. A sessão foi moderada pelo investigador do CECS e docente da Universidade Lusófona do Porto, Rui Pereira. O investigador da área da Ciência Política ressaltou as escolhas que são feitas na investigação, sem deixar de atentar para a necessidade de não ignorar que as identidades são múltiplas e é necessário esse olhar interseccional no âmbito da investigação sobre género e comunicação.
Na segunda parte do seminário foi apresentado o dossiê nº35 da revista ex aequo, dedicado aos cruzamentos interseccionais nas esferas da comunicação e cultura – coordenado pela investigadora e bolseira de pós-doutoramento do CECS, Carla Cerqueira, e por Sara Magalhães, investigadora e bolseira de pós-doutoramento do Centro de Psicologia da Universidade do Porto. A sessão iniciou com a intervenção da diretora da revista ex aequo e presidente da APEM, Virgínia Ferreira, que explicou o trajeto da associação e da publicação no âmbito dos estudos de género/sobre as mulheres/feministas em Portugal. De seguida, Conceição Nogueira, investigadora do Centro de Psicologia da Universidade do Porto e docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da mesma Universidade explicou a pertinência da interseccionalidade, sublinhando a necessidade de não ignorar que se trata de uma abordagem que nasce na década de 1980 no âmbito dos feminismos negros e pós-coloniais. Por sua vez, Rosa Cabecinhas, investigadora do CECS e docente na Universidade do Minho, salientou a pertinência deste dossiê, o qual permite refletir sobre as várias “cegueiras” que continuam a persistir na investigação, apresentando algumas formas de as visibilizar.
A sessão terminou com o apelo a mais trabalho de investigação e reflexão neste campo que é marcado hoje por uma enorme complexidade, aspeto ressaltado pelas várias pessoas intervenientes ao longo do seminário.
Texto: Carla Cerqueira & Sara I. Magalhães
Fotos: Carla Cerqueira