Editoras: Emília Araújo (CECS/UM), Rosalina Costa (Universidade de Évora) e Catarina Sales (CIES/UL/UBI)
A pandemia COVID 19 vai marcar o tempo histórico mundial. Como um momento de interrupção, suspensão e crise, os tempos atuais são fortemente disruptivos e efervescentes. Apelam a mudanças culturais e políticas, bem como a novos modos de experienciar, regular e planificar o tempo, em todos os sentidos e em todas as escalas. Enquanto indivíduos, instituições e comunidades estão a acelerar os processos e a lutar para enfrentar a propagação do vírus, tende-se a atrasar o desaparecimento do tempo e controlar as suas consequências humanas, sociais e ambientais; a espera invadiu a vida social e individual. Correndo para antecipar as consequências, grande parte da sociedade está na sala de espera, a aguardar que a “fase” passe, esperando que o equilíbrio seja restabelecido. No entanto, sabe-se que o tempo flui e a reversibilidade não será possível. A Ciência e as Ciências Sociais, em particular, precisam de interrogar e compreender os significados do colapso do tempo e antecipar os seus efeitos e consequências.
O tempo é uma das dimensões essenciais da vida, porque é através do tempo que os seres, os processos e as coisas se tornam visíveis, experienciados e sentidos. História e memória são o tempo, como a sociedade é o tempo. O dia-a-dia acontece no tempo. O tempo fica parado, o tempo avança, o tempo pode ser interrompido, transformado, perdido, economizado, convertido, amado ou odiado, dado ou recusado, visionado antecipadamente, ou gerido em atraso, sujeito a aceleração ou a espera, lembrado ou esquecido, integrado ou excluído. O tempo é simultaneamente escasso e abundante. Também é transformado de muitas maneiras e constantemente. A linguagem ajuda ou impede o tempo a existir, ou tornar-se numa questão de política e de aspiração social.
Muitos autores explicaram cuidadosamente as razões pelas quais o tempo é uma dimensão sociológica, tais como Hermínio Martins, Barbara Adam, Ramón Ramos, John Urry ou David Harvey. Experimentando contextos de elevada incerteza e risco. torna-se necessário investigar e pensar a governação e a política do ponto de vista do tempo, contribuindo para a identificação das melhores formas de reduzir os conflitos de tempo, e de aproveitar as suas complementaridades. Isto é particularmente relevante porque muitas rotinas diárias e modos de organização e avaliação do tempo tomados como certos estão a ser alterados, originando novas questões sociológicas pertinentes relacionadas com a importância, o valor e o significado do tempo e suas consequências. Por exemplo, o tempo de trabalho intensificou-se para alguns, mas reduziu-se compulsivamente ou mudou para outros e várias modalidades digitais de vida se impuseram – o teletrabalho, a teleconsulta, a e-escola ou o e-learning). Além disso, muitos tipos de aceleração atuais estão a testar a capacidade de indivíduos, instituições e sistemas – como a lei e os meios de comunicação – se ajustarem e responderem às necessidades sociais, criando, por seu turno, outros tipos de constrangimentos sobre o uso e a experiência do tempo.
Neste contexto, o desafio desta proposta é publicar um conjunto de textos curtos (entre 4000 e 5000 palavras), que possam proporcionar visões sobre os diferentes modos de compreensão da relação entre o tempo e a sociedade em contextos caracterizados pela suspensão, risco e incerteza. Como mencionado, a publicação contempla o objetivo de contribuir para melhor identificar, compreender e antecipar mudanças sociais e modos de intervenção nas esferas social e política, levando em conta o tempo.
As editoras propõem reunir contribuições que, a partir de metodologias diversas, possam fornecer visões teóricas e/ou empiricamente fundamentadas acerca dos usos e valorizações do tempo que acompanham as mudanças, os conflitos e, genericamente, os problemas em curso.
Textos que apresentem e debatam questões emergentes, assim como áreas de intervenção potencialmente inovadoras para a Sociologia nas esferas da saúde, do ambiente, gestão do território e política europeia, são bem-vindos.
Algumas sugestões de temas possíveis são:
• Tempo, teoria e métodos
• Tempo, ciência e políticas públicas
• Tempo, crise e género
• Tempo, espaço e infância
• Tempo, espaço, casa e teletrabalho
• Tempo, poder e novas desigualdades
• Tempo, solidariedade e governação
• Tempo, previsão e antecipação
• Tempo e comunicação de crise
• Metáforas do tempo e comunicação
• Tempo, memória e crises
• Tempo, aprendizagem e suspensão
• Tempo, crise e rutura
• Tempo, ciência e sociedade
• Tempo, doença, adiamento e espera
• Tempo, digitalização e colaboração
• Tempo, protesto, fases e identidades
• Tempo, mobilizações e risco
• Tempo, política e meios de comunicação
• Tempo, idade e sistemas
• Tempo, emoção e morte
• Tempo e (i)mobilidades
Os textos (entre 4000 e 5000 palavras) devem ser apresentados de acordo com as normas APA, seguindo o Manual de Publicação do CECS. Por favor, considere a necessidade de serem textos originais, ainda não publicados. Os textos devem ser acompanhados por uma pequena nota biográfica dos/as autores/as.
Datas Importantes:
20 de maio – submissão de textos a emiliararaujo@gmail.com
30 de maio – contacto com a autoria
15 de junho – Submissão de textos finais