Encontra-se aberta, até 13 de maio, a chamada de trabalhos para a Conferência “Qualidade no Jornalismo”. O evento terá lugar no dia 22 de junho, na Universidade do Minho.
O jornalismo é, hoje, ponto de confluência de um conjunto cada vez mais vasto de problemáticas. Sabe-se que a qualidade da experiência democrática das sociedades hodiernas está diretamente relacionada com a qualidade da informação produzida pelos jornalistas e pelos media. Contudo, constatar este facto parece já não ser suficiente para salvaguardar o jornalismo de todas as ameaças que sobre ele pendem e de todas as crises que em torno dele se instalaram nas últimas décadas.
O jornalismo está exposto num campo onde se jogam, simultaneamente, a sua sobrevivência económica, a sua relevância social, a sua adequação aos ambientes técnicos e tecnológicos em que está imerso e as condições objetivas e subjetivas em que é produzido.
Analisar a qualidade no jornalismo significa, por isso, abraçar um problema público crescentemente complexo do qual só uma abordagem científica pluridimensional poderá tentar dar conta – correndo, ainda assim, o risco de ficar sempre demasiado aquém.
De facto, contrariamente ao que constituiu o núcleo histórico da crescente centralidade social do jornalismo até ao surgimento da Internet, na atualidade, a informação jornalística produz-se, cada vez mais, num imenso caldo informacional que, além de a extravasar e diluir, a força, simultaneamente, a ser competitiva. Se é certo que o jornalismo ainda dispõe de uma reserva de legitimidade, que qualifica autoritativamente a informação que produz, a partir, por um lado, da tradição relacionada com o papel fundamental que desempenhou no desenvolvimento da esfera pública moderna e, por outro, do conhecimento público dos mecanismos de controle internos e externos às práticas jornalísticas – pressupõe-se que a produção jornalística é escrutinável a partir do seu ethos e da sua praxis -, as modalidades de competição em que está progressivamente imerso estão a aproximá-lo, cada vez mais, das possibilidades de esgotamento dessa reserva. Neste sentido, as constantemente debatidas ameaças ao jornalismo não se radicam apenas nos modelos da sua sustentabilidade económica, que o colocam perante a urgência de competir por métricas de visibilidade, mas também nos modelos intrínsecos à produção informativa, que a qualificam ou não como informação de interesse público e a colocam em competição com a produção de informação não mediada por jornalistas.
De facto, a informação interseta hoje, como totalidade, cercando – por todos os lados, por todas as vias, das autoestradas electrónicas aos interstícios mais esconsos da tessitura societal -, as sociedades contemporâneas, alargando-se e tomando-as. Constitui, cada vez mais, a cara e coroa da moeda que o “semiocapitalismo” (Berardi, 2015), constantemente renovado pela “mobilização infinita” (Sloterdijk, 1989) ou “global” (López-Petit, 2009), utiliza para totalizar a experiência. Toda a informação é capital e todo o capital é informacional. E, se entendermos o humano a partir da contínua operação de digitalização e encriptação da experiência – o corpo-sensor hipercodificado, ou a “vida nua” (Agamben, 2005), compreender-nos-emos como “monnaie vivante” (Klossowski, 1997): eu sou os dados que me (re)produzem e sou moeda em circulação – e é na identidade informacional dos dados que repousam as memórias estilhaçadas da minha identidade.
A primeira consequência desta interseção total é o mais absoluto ruído, causa imediata da inapelável impossibilidade de apreensão do todo (Pereira, 2019). Ruído que emerge, assim, como barreira irremovível à produção jornalística de informação.
Esta Conferência, que coincide com o início dos trabalhos, no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, do novo Barómetro para a Qualidade da Informação, pretende propor à comunidade científica o desafio de refletir sobre a qualidade no jornalismo quer como campo teórico de interseção e inserção da produção jornalística na produção informacional, quer como campo de pesquisa empírica da(s) qualidade(s) que, caracterizando a produção jornalística contemporânea, a afirmam como valor inalienável da contínua construção da Cidade humana.
Modelo de apresentação:
Esta conferência decorre presencialmente e visa privilegiar o diálogo e o debate crítico entre os participantes. Com este enquadramento, a organização convida investigadores, docentes e estudantes de doutoramento a submeter propostas de trabalho a serem apresentadas em 6 minutos. Nesta modalidade, espera-se tornar as sessões de apresentação mais dinâmicas e aumentar o tempo de interação para comentário e discussão.
Para responder a este convite, os autores deverão:
– submeter uma proposta através deste formulário.
– em caso de aprovação, preparar uma apresentação oral sintética (com a duração de 6 minutos), acompanhada de um suporte visual que possa também ser exibido durante todo o tempo do evento em espaço preparado pela organização para o efeito.
Depois do evento, será publicado um livro (com ISBN), para o qual os autores poderão contribuir com o texto integral correspondente à apresentação. O capítulo a publicar deverá cumprir os seguintes requisitos:
– ter uma extensão de 6000 a 8000 palavras (excluindo referências bibliográficas);
– seguir a norma de referenciação bibliográfica conforme ao estilo APA (7ª edição).
Prazos:
Submissão de propostas: 13 de maio de 2022
Notificação de aceitação: 20 de maio de 2022
Inscrição: 6 de junho de 2022
Submissão dos materiais de apresentação em formato digital: 17 de junho de 2022
Submissão do texto integral: 30 de outubro de 2022
Áreas temáticas a sugerir para submissões:
– as dimensões, modelos e desafios do conceito de qualidade em jornalismo e da sua medição
– a qualidade em jornalismo no ecossistema da qualidade da informação
– as fronteiras do jornalismo e a relação com as outras áreas da comunicação como desafios à qualidade do jornalismo
– a qualidade do jornalismo como bem/serviço público, no contexto do seu papel nas sociedades democráticas
– a qualidade do jornalismo a partir da sua relação com os públicos/audiências
– a qualidade do jornalismo como investimento estratégico e o seu lugar na discussão sobre modelos de negócio
– o contributo da formação dos jornalistas e do ensino do jornalismo para a qualidade do jornalismo
– a qualidade do jornalismo entendida a partir das características e atributos da produção jornalística (ex: géneros e novas expressões jornalísticas, design e visualidade)
– a qualidade do jornalismo entendida a partir dos processos de produção jornalística (ex: ética e deontologia, verificação, organização das redações e das rotinas de produção)
Organização:
Grupo de Investigação em Média e Jornalismo (CECS)
Barómetro para a Qualidade da Informação (CECS)