Colóquio da sociologia da religião discutiu a iconografia da Virgem Maria e o Ensino Católico na Polónia

Rodrigo Portella (Universidade Federal de Juiz de Fora – Brasil) e Zbigniew Kazmierczak (Universidade de Bialystok – Polónia) foram os protagonistas do Colóquio da sociologia da religião, que decorreu hoje, 26 de junho de 2017, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho.

Portella discorreu sobre a temática que desenvolveu no seu estágio de pós-doutoramento (CAPES), no CECS, sob supervisão do investigador Joaquim Costa, entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, sob o tema “Os sentidos de Maria: cenas e significados no desenvolvimento histórico da piedade mariana”. A comunicação do investigador destacou a piedade mariana vista a partir da arte, pretendendo dar visibilidade aos significados e transformações nas devoções e afetos relativos à figura da virgem Maria ocorridos durante o desenvolvimento da história da Igreja cristã. Nesse sentido, observou a forma de como Maria foi percebida no início do cristianismo e, por exemplo, quais foram os desenvolvimentos que se destacaram quanto à perceção sobre a Virgem no período medieval. As iconografias da virgem Maria mostram que ela “passa de mensageira de Jesus a mensageira dela própria”. Numa perspetiva temporal, a Virgem foi mudando de lado, uma vez que, de uma fase inicial em que estava ao lado das mulheres, ligando-se com a vida das pessoas, numa lógica social – “basta atentar nas suas facetas de Nª Sra. Do Leite, do Parto, das Dores, do Ó” -, passa a importar-se mais consigo própria, “realçando as suas próprias expetativas e assumindo a forma que tem hoje: “etérea e celeste, sem ligação, nomeadamente ao local das ‘aparições’, nem a qualquer realidade social”. É dessa forma que a religião popular e a teologia se tocam nas compreensões devocionais relativas ao culto mariano.

Já Zbigniew Kazmierczak realçou, na sua intervenção intitulada “A receção do Ensino Católico na sociedade Polaca contemporânea”, a importância da Igreja Católica polaca nos tempos do regime comunista considerando-a “como uma fortaleza da resistência contra aquele sistema politico”. O investigador evidenciou que a posição política da Igreja no comunismo foi amplamente aceite. Na atualidade daquele país, com a democracia existente, “ela assume contornos muito mais problemáticos”, mesmo que 90% da população polaca se declare católica, e que a maior parte das pessoas “considerem o catolicismo como um elemento essencial”. Uma razão que contribuiu para esse estado de coisas foi o facto de nenhum governo polaco depois, de 1989, ter sido capaz de criticar o papel político da Igreja e cada governo apoiasse financeiramente as suas iniciativas. Refira-se que a religiosidade dos polacos “é tipicamente seletiva”, sendo que no domínio da receção moral do ensino católico, “os polacos muitas vezes parecem superficiais”, e o seu nível de confiança social é um dos mais baixos da Europa.

Texto: Vítor de Sousa
Fotografia: Vítor de Sousa