O livro “Da ‘portugalidade’ à lusofonia”, da autoria de Vítor de Sousa, publicado pelas Edições Húmus/CECS, reproduz grande parte da investigação desenvolvida na tese de doutoramento homónima que defendeu, em 2015, na Universidade do Minho, em Ciências da Comunicação (especialidade de Comunicação Intercultural), assim como os seus principais desenvolvimentos e conclusões. Com esta tese ganhou o autor, em 2016, o Prémio Mário Quartim Graça, da Casa da América Latina, que a distinguiu como a melhor tese de doutoramento, submetida a concurso em Ciências Sociais, em Portugal e na América Latina.
A investigação de Vítor de Sousa, foi orientada por Moisés de Lemos Martins, que prefacia a obra, e refere que o autor “tem uma argúcia igual à que teve, quando visou a figura da ‘portugalidade’, que interroga a figura da ‘lusofonia’, da qual os Portugueses não desgrudam nunca”, sendo que a investigação não se fica pelos equívocos (antigos e modernos, luso-tropicalistas, neocoloniais, ou outros), “ensaiando sobre as possibilidades da lusofonia, não apenas como figura, mas nas suas inúmeras vertentes”. A propósito da assombração da figura de ‘portugalidade’, “que vampiriza a figura de ‘lusofonia’”, Vítor de Sousa afirma “não poder haver lusofonia com portugalidade”, configurando mesmo essa eventualidade um contrassenso.
O autor reporta a cunhagem da ‘portugalidade’ ao Estado Novo, balizando-a entre os anos 50 e 60 do século XX, para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (províncias ultramarinas), o que foi corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial), pela introdução da palavra nos discursos dos deputados. Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu ‘destino histórico’. Esse facto seria sublinhado no discurso político da ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: “Portugal do Minho a Timor”.
Na opinião de Vítor de Sousa, “a ‘portugalidade’ está sempre a reativar o luso-tropicalismo e não ajuda a esbater os constrangimentos na relação de Portugal com o ‘outro’ da colonização”, o que acontece “mesmo que se tente retirar a ‘portugalidade’ da esfera nacionalista em que foi cunhada”. A herança da ‘portugalidade’ é, assim, como que uma espécie de interculturalidade ao contrário, decorrente da tentativa de o Estado Novo com ela pretender desenvolver uma homogeneidade artificial portuguesa dominante.
Ficha técnica
Título: Da ‘portugalidade’ à lusofonia
Autor: Vítor de Sousa
Capa: António Modesto
1ª edição: novembro de 2017
Depósito legal: 431000/17
ISBN: 978-989-755-270-3
424 pp.