Faleceu o Professor José Manuel Paquete de Oliveira

Foi um de nós no ensino e na investigação em Ciências da Comunicação, e também no acompanhamento crítico da atividade dos média, sobretudo da imprensa escrita e da televisão.
Mas foi o melhor de todos nós: na amizade, na sabedoria, no companheirismo, no desprendimento, na simplicidade, e no sentido de humanidade, uma distinção que sempre marcou as suas atitudes e gestos.
Morreu como provedor do jornal Público e como Presidente do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior. Ou seja, morreu de pé, a fazer aquilo que sempre fez, trabalhando na Academia e nos média.
A comunidade científica de Ciências da Comunicação vê partir um dos seus pais fundadores, sem dúvida a sua figura maior, tanto pela notoriedade pública como pelo impacto na área. Grande académico no ensino e na investigação. E grande animador da comunidade científica de Ciências da Comunicação, em Portugal e no espaço lusófono.
E os média, sobretudo a imprensa escrita e a televisão, também veem partir um interveniente ativo no seu campo, ao longo dos últimos quarenta anos: um observador atento da atividade mediática e uma presença fecunda, que se afirmou poderosa, sem ser ostensiva, ponderada, mas sempre instruída e crítica.
O Professor Paquete de Oliveira foi muita coisa na Academia, especificamente no ISCTE-IUL, e nas Ciências Sociais em geral, de que não vou falar. Farei apenas três destaques sobre o seu papel nas Ciências da Comunicação em Portugal e no espaço lusófono.

(1) O Professor Paquete de Oliveira criou, ainda nos anos 70, a disciplina de Sociologia da Comunicação, na licenciatura de Sociologia do ISCTE-IUL. E ensinou-a ao longo de trinta anos (1977-2006). Esteve, posteriormente, num momento decisivo do desenvolvimento e da consolidação dos estudos de Comunicação no ISCTE, ao criar e coordenar o curso de mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação (1998-2006).
Sociologia da Comunicação foi a primeira disciplina sobre os estudo dos média a ser lecionada em Portugal, num curso superior.
Teve um papel importante na acreditação dos cursos superiores de Ciências da Comunicação em Portugal, nos primórdios do ensino desta disciplina. E, posteriormente, na avaliação destes cursos. Presidiu, assim, à primeira Comissão de avaliação dos cursos de Comunicação Social e de Ciências da Comunicação no ensino superior politécnico. E integrou, também, uma equipa de avaliação dos cursos de Comunicação no ensino superior universitário.

(2) Esteve na fundação da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom), um processo que se desenvolveu a partir de 1997 e que culminou na eleição dos seus primeiros corpos sociais, em 1998. Integrou, então, a direção como Vice-Presidente.
E em 2002 foi eleito Presidente da direção, função que desempenhou até 2005.
Ao mesmo tempo que desenvolvia esforços para organizar a comunidade portuguesa de Ciências da Comunicação, o Professor Paquete de Oliveira empenhava-se na criação da comunidade lusófona, com portugueses, brasileiros, galegos, moçambicanos e angolanos. A Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom) havia sido criada em 1998. Em 2002, o Professor Paquete foi eleito seu Presidente, funções que desempenhou até 2006.

(3) O Professor Paquete de Oliveira começou a sua vida profissional como jornalista, no Jornal da Madeira, de que foi Chefe de redação. Trabalhou, depois, no Notícias do Funchal e no Comércio do Funchal. Já em Lisboa, colaborou com o Diário de Notícias, o Expresso, O Jornal, o Diário de Lisboa, o Jornal de Notícias e o Público.
Ganhou grande notoriedade pública nos anos 90 (1993-1999), como comentador residente do programa Casos de Polícia, da SIC, que foi moderado, primeiro pelo jornalista Carlos Narciso, e depois pela jornalista Conceição Lino.
Inaugurou a provedoria do telespectador numa televisão pública. Foi assim, de 2006 a 2011, Provedor do telespectador da RTP. Abrindo caminhos na regulação dos média pelos cidadãos e imprimindo uma marca de qualidade ao programa, Paquete de Oliveira tornou-se o provedor de televisão por excelência e uma referência para todos os outros provedores que se lhe seguiram, sem todavia o igualarem em brilho.
Em 2013 tornou-se Provedor do leitor do jornal Público, funções que desempenhou até ao fim dos seus dias, publicando o seu último trabalho a 6 de junho passado.

Relembrando as muitas léguas de caminho que percorremos juntos, ao serviço das Ciências da Comunicação, em Portugal e no espaço lusófono, sinto o privilégio que me foi dado de conhecer e conviver, não apenas com uma figura incomparável da nossa área de ensino e de investigação, mas igualmente com o homem a todos os títulos inspirador, que era o Professor Paquete de Oliveira, pela mansidão, serenidade, generosidade, afabilidade, simplicidade, qualidades humanas de que se revestia o seu coração, terno e bondoso.

O Professor Paquete de Oliveira foi consultor científico do CECS desde a fundação desta unidade de investigação. Foi um de nós – um companheiro de todas as horas. Mas que companheiro!

Braga, 11 de junho de 2016

Moisés de Lemos Martins
Diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)

Sobre o mesmo assunto, o diretor do CECS prestou, também, um depoimento ao Jornal 2 da RTP, no dia 11 de junho [http://www.rtp.pt/play/p2243/e239364/jornal-2 – minutos 20'00 a 26'17).