Moisés de Lemos Martins (Org.)
2010 | Coimbra: Grácio Editor/CECS
ISBN:978-989-8377-07-4
Moisés de Lemos Martins (Org.)
2010
Coimbra: Grácio Editor/CECS
A largueza do espírito académico
Diz o poeta, no livro do Desassossego, que a vida é uma viagem experimental, feita todavia involuntariamente. É uma viagem do espírito, através da matéria. E dado o facto de ser o espírito que viaja, é no espírito que vivemos.
Existem almas que vivem mais tumultuadamente que outras. E é também verdade que existem aquelas que vivem mais intensamente, ou então, mais extensamente. Pouco importa isso, porque o que sentimos é sempre apenas o que vivemos. Estamos de facto em crer que nos recolhemos tão cansados de um sonho como de um trabalho visível.
Há mais de trinta anos que o professor Manuel da Silva Costa tem estado entre nós como o espírito de que temos vivido. A nossa viagem académica, de sonhos e trabalhos no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, quase se confundiu, por um tempo, com a viagem dos sonhos e trabalhos deste homem.
Temos vivido deste espírito, um espírito de humanidade, um espírito de bondade, rectidão e justiça, um espírito de livres navegantes das viagens do conhecimento, viagens que não acabam nunca. E como seria bom que este espírito continuasse a trabalhar a Academia e a pairar entre nós, um espírito de humanidade: na ciência, no ensino, no serviço à comunidade. Se nos reclamarmos de um espírito de humanidade, não corremos o risco de naufrágio, por mais incertos que sejam os tempos.
Olhando os anos que decorreram com o Professor Manuel da Silva Costa a nosso lado, ficamos com a impressão de que ele conheceu, entre nós, horas de todas as cores e ânsias de todos os tamanhos. Vimo-lo sempre a desmedir-se pela vida fora, não se bastando, nem sonhando bastar-se. Vimo-lo levando de um lado para outro, de norte para sul, de leste para oeste, o brio, a honra e o orgulho de termos um passado, a intensidade de vivermos um presente e o desassossego de termos que ter um futuro. Porque as Ciências Sociais tinham que ter futuro na Universidade do Minho. Mas vimo-lo, igualmente, sempre, com sentido de humanidade, um sentido de bondade, rectidão e justiça, cortando as águas, cavalgando as encapeladas ondas, encorajando-nos na viagem, abrindo as rotas para novas paragens.
Em todos os tempos, é esta largueza de espírito que faz da Academia uma realidade nova. E é por isso que estamos gratos ao Professor Manuel da Silva Costa.
Moisés de Lemos Martins
Presidente do Instituto de Ciências Sociais, de 1996 a 2000 e de 2004 a 2010.
Índice
Prefácio: A largueza do espírito académico |
7 |
As Ciências Sociais na Universidade do Minho: do projecto de 1976 ao presente e além Aníbal Alves |
9 |
Três mitos visuais de Braga |
19 |
A Sociologia do Desporto e novas perspectivas para a Sociologia Geral. Exemplo: o caso do futebol António Costa |
31 |
A moral da justiça e a moral dos media julgamentos mediáticos e dramas públicos |
49 |
Subsídios para uma análise da mobilidade populacional à escala local: o caso do concelho de Vila Verde Carlos Veloso da Veiga et al |
63 |
A desestruturação do mundo rural e o uso do fogo – o caso da serra da Cabreira (Vieira do Minho) António Bento et al |
87 |
Measuring the Portuguese ICT sector at a local level Flávio Nunes |
105 |
O ciclone de 1914 e os prejuízos causados na sua passagem pela bacia hidrográfica do rio Ave – Uma perspectiva a partir do relatório do chefe da 2.ª Secção da 1.ª Direcção Hidráulica do Douro Francisco da Silva Costa |
121 |
Cooperação e mudança organizacional Ivo Domingues |
133 |
Poder, redes e heterogeneidade: algumas notas de investigação a partir da "Teoria do Actor-Rede" José Pinheiro Neves |
149 |
Com uma enxada e um foucinhão. Estruturas familiares, modelos sociais e construções identitárias numa região de tradições migratórias Margarida Durães |
161 |
Os municípios: do governo clássico à governação J. A. Oliveira Rocha |
177 |
Marx-Engels e as fraseologias (pseudo)dicotómicas Manuel Carlos Silva |
185 |
Da impossibilidade de superar a actual crise do capitalismo José Maria Carvalho Ferreira |
197 |
Escrever a História na primeira pessoa. Propósitos e sentidos de algumas autobiografias de intelectuais e políticos africanos recentemente publicadas José Carlos Venâncio |
213 |
Estudantes finalistas e representações do futuro Emília Araújo et al |
223 |
Virtudes-desvirtudes na actualidade.Em busca de confiança nas sociedades ultramodernas Maria Engrácia Leandro et al |
233 |
As famílias tribais Jean-Martin Rabot |
255 |
Os Cultural Studies no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho Moisés de Lemos Martins |
271 |
Notas biográficas | 289 |