María Jesús Díaz González, professora na Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade da Corunha (Espanha), vai estar até 4 de dezembro de 2017 no CECS a realizar uma estância de investigação sob orientação de Helena Sousa, cordenadora do Grupo Comunicação, Organizações e Dinâmicas Sociais. O âmbito das suas investigações incide sobre a estrutura e políticas de comunicação, sendo os seus trabalhos principalmente sobre o sector audiovisual (televisão e cinema). Com esta estância, procura conhecer o trabalho dos investigadores do CECS sobre esta área.
– Porque é que escolheu o CECS para o desenvolvimento do seu trabalho?
A escolha foi feita, sem dúvida, devido ao seu prestígio como centro de investigação. Conheci o CECS da Universidade do Minho através das publicações dos seus investigadores.
A minha investigação está ligada à estrutura e políticas de comunicação. A busca de trabalhos recentes sobre o caso de Portugal conduz, sem dúvida, aos autores de referência neste país, como a Professora Helena Sousa e a sua equipa. Comecei a seguir as suas publicações e atividades e, como consequência, surgiu o meu interesse na Universidade e no Centro. Descobre-se, então, o que é o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, os seus investigadores e os seus grupos de trabalho. A partir daí, considerei que seria uma ótima oportunidade deslocar-me a Braga e conhecer esses colegas pessoalmente e trabalhar com eles.
Além disso, durante o período 2014-2016, participei como investigadora num projeto nacional de I&D sobre políticas audiovisuais na Europa. Como resultado deste trabalho, o livro intitulado “Austeridade e clientelismo. Política audiovisual em Espanha no contexto mediterrânico e da crise financeira” foi publicado há alguns meses. Neste livro, a Professora Helena Sousa e a Doutora Mariana Lameiras trataram do capítulo dedicado a Portugal. Isso deu-me a oportunidade de colaborar num trabalho comum e convenceu-me, ainda mais, de que fazer uma estância de investigação no CECS seria muito enriquecedor.
– Qual a investigação que se propõe desenvolver durante a sua estância no CECS?
Uma pesquisa relacionada com as políticas de comunicação que inclui uma perspetiva comparativa entre Portugal e Espanha, uma vez que a equipa do CECS possui uma experiência importante no eque concerne a estudos comparativos entre países, no contexto da diversidade europeia.
Além disso, sempre pensei nesta estadia como uma oportunidade de conhecer e colocar em prática as diferentes metodologias utilizadas pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação, Organizações e Dinâmicas Sociais do CECS.
– Quais as grandes diferenças entre os sectores audiovisuais português e espanhol?
Na realidade, eu não conheço a fundo o setor audiovisual português; Isso é algo que eu pretendo fazer durante a minha estadia aqui. No entanto, posso salientar que existe um paralelismo e uma diferença importante.
Um paralelismo porque o sistema de média de ambos os países responde a uma conceção política e social semelhante. No caso da televisão, por exemplo, a existência inicial de um importante grupo público em monopólio, a forma de entender o que é o serviço público de televisão, a preponderância da televisão aberta por ondas terrestres, etc. A diferença, decorre do facto de Espanha e Portugal serem mercados audiovisuais de um tamanho muito diferente o que determina, desde logo, diferentes muitas decisões e possibilidades. Isso pode ser percebido, por exemplo, ao estudar-se as políticas de promoção da cinematografia e do audiovisual.
– Há mudanças estruturais na forma como, por exemplo, se vê televisão. É global a tendência da plataformização. Também no cinema. Perante este quadro, que desafios se colocam na área? Qual o cenário que prevê existir no futuro?
Um cenário emocionante para o investigador e para o professor, porque muitas coisas acontecem e de forma tão rápida que não podemos ficar nunca entediados. Teria mais preocupações se fosse produtora audiovisual ou diretora de uma rede de televisão…
Em junho passado, assisti a um mercado especializado para co-produções de televisão (Conecta Fiction), que reuniu profissionais europeus e americanos. Todos falavam sobre o facto de que a chegada do Netflix aos seus países tinha abalado as bases do modelo comercial e que, para desenvolverem conteúdo de qualidade global, o caminho seria a co-produção. Muitas incógnitas foram, desde logo, percebidas, mas também muita energia ficou associada à situação.
Na Europa, a estratégia do mercado único digital procura estabelecer condições adequadas e sustentáveis ??para guiar a revolução que levou à digitalização. A produção, distribuição e consumo de conteúdos são transformados e devem ser adaptados, mas, ao mesmo tempo, há tensões entre o que a tecnologia permite e os interesses das indústrias envolvidas no setor audiovisual. Interesses que também devem ser considerados, porque os investidores não podem correr o risco de avançar com um negócio audiovisual (que muitas vezes requer investimentos elevados) se o destinatário do conteúdo quiser receber tudo de forma gratuita ou quase gratuita. Ao mesmo tempo, a indústria estabelece barreiras e custos artificiais, porque até agora obteve algumas margens de lucro que não quer diminuir.
Qual será o cenário futuro? O futuro é sempre incerto, mas esperamos estar lá para o viver e investigar.
Entrevista e foto: Vítor de Sousa