Päivi Rasi é Professora na Universidade de Lapland, na Finlândia. Ensina nas áreas de Educação para os Média e pertence ao centro de investigação Média e Pedagogia, na mesma instituição. Foi recentemente eleita Presidente da Sociedade Finlandesa da Educação para os Média. Esteve recentemente no CECS para dinamizar uma das sessões do Seminário Permanente de Educação para os Média, onde falou, entre outros temas, das representações dos idosos nos média.
Qual é o âmbito da sua investigação?
Nos últimos sete, oito anos, tenho desenvolvido trabalho sobre os idosos e a relação que eles têm com as tecnologias e a Internet. Os que usam tecnologias e outros que não pensam sequer em utilizá-las. Especialmente com grupos sociais de áreas rurais da Finlândia, mas também dos EUA.
Que semelhanças encontrou nos EUA?
Vivi nos EUA durante 10 meses, no Michigan, numa área rural. Fiz lá um período de um intercâmbio de professores. Aquele ambiente lembrou-me muito a Finlândia, porque lá, sobretudo os mais velhos, não querem usar a Internet.
Essa relutância em lidar com a tecnologia é deliberada ou revela incapacidades por parte dessas pessoas?
Em muitas situações, é deliberado. Como investigadores, definimos estas pessoas em várias categorias: as que não utilizam a Internet e as que não querem ou se recusam. Numa sociedade como a finlandesa, onde muitos movimentos se deslocam para a Internet, ainda existem pessoas que não querem mesmo utilizar a Internet. Estes números são especialmente relevantes numa faixa etária a partir dos 60, 65 anos. E depois não esqueçamos outro grupo de pessoas que até admitem que pode ser benéfica essa experiência de lidar com os meios digitais, mas que sentem que não têm conhecimentos para entrar nestes domínios.
Como é que vivem essas pessoas?
Vivem bem. Têm um estilo de vida tradicional, de muito contacto com a natureza. Muitos consideram que a tecnologia não lhes faz falta nenhuma e ficam até bastante incomodados com a digitalização da vida moderna. Na Finlândia, há muitas pessoas zangadas com o Governo finlandês que as obriga a usar a Internet.
A que zona da Finlândia se refere?
A minha investigação foca-se no norte do país. São zonas mais remotas, por isso é que o governo tem apostado na promoção de serviços online. Não há muitos bancos, nem mercearias.
Esta desigualdade fixa-se portanto no acesso, apenas?
Não me parece. São questões de ideologia, sobretudo, mas também de competências como é natural.
De que forma se pode investigar estes grupos? Foi fácil estabelecer esse contacto?
Muitas não se revêm neste mundo digital. Por isso, ficaram bastante agradadas com o facto de alguém estar ali a ouvir o que elas pensam, pareciam até mais aliviadas. No fundo, sentem-se à parte da sociedade finlandesa, que está muito vocacionada para a utilização da Internet. Mas são uma minoria, é verdade. Receberam-me muito amigavelmente, poderia ter ficado horas e horas a entrevistá-los.
Então que tipo de consumo mediático estas pessoas fazem?
Quando falamos de pessoas com mais 65 anos, a televisão continua a ter um lugar muito importante, com a típica imagem que temos dela, colocada em destaque na sala de estar. Não estamos a falar da televisão que podemos ver pelo telefone ou pela Internet. Na Finlândia, os meios de comunicação regionais, sobretudo a imprensa, ainda têm muita credibilidade e são muito apreciados pelas pessoas.
Estuda também as representações sociais, através da imprensa. De que modo esse retrato é crucial para os idosos? [áudio apenas em inglês]
Há preconceitos sobre aquilo que os idosos podem fazer com as tecnologias?
Poderíamos chamar-lhe preconceito, mas eu prefiro chamar-lhe antes uma visão limitada. Se analisarmos as estatísticas, podemos observar que as pessoas mais velhas também usam a Internet para outros efeitos, como fazer compras ou encontrar um parceiro. Existem diferentes níveis de utilização. A minha investigação procura perceber por que existem estas diferenças. De que forma os estilos de vida e as perceções das pessoas influenciam a utilização da tecnologia.
O que representa para si a sua recente eleição para a Presidência da Sociedade Finlandesa de Educação para os Média? [áudio apenas em inglês]
De um ponto de vista mais abrangente, como vê a evolução europeia nesta área da educação para os média? Que avançamos consegue identificar?
Há diferenças entre países, mas o que temos visto é precisamente uma melhoria. Há iniciativas que curiosamente juntam todo o tipo de pessoas, das mais variadas idades. Já não se fala apenas desta área para as crianças e para os jovens. O financiamento já se desloca para projetos sobre literacia e adultos. Além disso, um dos grandes objetivos passa por integrar disciplinas como a educação para os média ou a literacia nos currículos dos estudantes. Como acontece agora na Finlândia.
De que modo é que isto se concretiza no seu país?
A introdução da disciplina “Multi literacias” já acontece tanto no ensino básico, como no secundário. Mas ainda estamos no início. Na Finlândia, a lei passou a determinar que qualquer professor, seja de que área for, tem de promover algum tipo de formação sobre literacia, os média, meios digitais… É um desafio para todos.
O que a levou a realizar este período de investigação na Universidade do Minho, aqui no CECS?
Estive no ano passado em Toronto, num congresso dedicado a estudar a centralidade da tecnologia no humano e conheci a Inês Amaral [investigadora do CECS], que me falou do vosso centro e do trabalho que realizam aqui. Fui ao site do CECS e verifiquei investigação de grande qualidade, interessante e que se relaciona com muitas das minhas áreas de estudo.