Entrevista a David Renault

 “A mediatização da corrupção pode criar um novo parâmetro de relações e de comportamento na sociedade”

David Renault é Professor na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e encontra-se a desenvolver um Pós-Doutoramento no CECS, sob orientação de Luís António Santos, até dezembro de 2017. Neste trabalho procura desenvolver uma análise comparativa relativa à cobertura mediática dos casos de corrupção “Lava Jato” e “Operação Marquês”, no Brasil e em Portugal, respetivamente.

 

O que mais chamou a sua atenção na “Operação Marquês” para fazer este trabalho comparativo com o caso “Lava Jato”, no Brasil?

Desde logo, por ser um caso recente e que envolve basicamente um único partido político. Ao contrário do que se vive no Brasil, onde as suspeitas recaem em todo o panorama político, em Portugal falamos de poucas pessoas envolvidas. O caso das refinarias Petrobras, no Brasil, seria o equivalente à dimensão da “Operação Marquês”, quanto ao número de intervenientes envolvidos. Este desequilíbrio dificulta um pouco o trabalho comparativo. Mas o que mais me chamou a atenção foi a centralidade de um partido, de uma pessoa e de um grupo pequeno de empresários.

Os grandes visados pelas acusações – Sócrates e Lula – são comparáveis do ponto de vista da atenção que despertam junto dos média?

Em relação aos intervenientes que vieram a ganhar protagonismo, na “Operação Marquês” fala-se muito sobre o juiz, o procurador e do advogado de Sócrates, por exemplo. São figuras que ganharam claramente um mediatismo muito grande. No Brasil, verifica-se o mesmo, com outras figuras?

Claro, a grande personagem acabou por ser o juiz do Paraná, Sérgio Moro. Ele tem conduzido o processo com muita celeridade e firmeza. Mas há outros. Eu separo o Lula dos outros, porque ele é político. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, também passou a ter destaque, porque a investigação está a ser liderada por ele. Destacou-se também Teori Zavascki, que era o relator do processo, mas que morreu recentemente num acidente aéreo. No mundo empresarial temos Marcelo Odebrecht, antigo presidente do grupo Odebrecht, a UTC, o Grupo Andrade Gutierrez, a Camargo Corrêa, grandes empreiteiras que estão todas envolvidas nisto.

Na sua opinião, a cobertura mediática destes dois casos pode levar a que tipo de consequências, do ponto de vista político e social?

 

 

Em traços gerais, como vê a cobertura dos média sobre o fenómeno da corrupção, nos dois países?

O Partido Trabalhista (PT) chegou ao poder sem o apoio dos média e o grande mérito da vitória de Lula foi esse discurso da ética, da luta contra a corrupção. No entanto, com o passar do tempo, o PT acabou por patrocinar tudo isso. Mas a corrupção não é uma realidade nova, sempre existiu. O que parece é que agora tudo está num patamar mais ampliado, escancarado. O Ministério Público e a Procuradoria têm vindo a pressionar muito para o caso se resolver, com as chamadas “delações premiadas”, em que os envolvidos acabam por revelar quem recebeu, quanto e em que circunstâncias. E isso tem mostrado que todos os partidos têm responsabilidades nestes negócios. Por isso, é um processo mais abrangente do que o português.

O foco do seu trabalho reside, portanto, na narrativa jornalística sobre estes casos. Que tipo de investigação jornalística tem sido feita?

 

Por que escolheu a Universidade do Minho e o CECS para desenvolver este trabalho?

A Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília tem, desde há algum tempo, um processo de colaboração com a Universidade do Minho, no quadro das políticas de comunicação e entendi que havia um espaço para tentarmos alargar esta cooperação, mais na área da política, dos média. Depois, porque existem estas semelhanças de casos de corrupção, envolvendo políticos, antigos governantes e estruturas empresariais.

 

Autor da entrevista: Fábio Ribeiro

Créditos da fotografia: Fábio Ribeiro