Numa organização conjunta do Departamento de Ciências da Comunicação e do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS/ICS – Universidade do Minho), em parceria com o projecto de investigação "Narrativas Identitárias e Memória Social" (FCT-CECS), realizou-se na Universidade do Minho, no dia 4 de janeiro (10h00), na Sala de Atos do ICS, uma Aula Aberta sobre "Racismo e Políticas de Ação Afirmativa no Brasil: Questões de cor e de classe", com o Professor Marcus Eugênio Oliveira Lima, da Universidade Federal de Sergipe, Brasil. Esta iniciativa pretende promover a reflexão sobre as relações raciais no Brasil, com enfoque no debate atual sobre as políticas de ação afirmativa neste país.
Nota biográfica
Graduado e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba, Brasil, e Doutor em Psicologia Social pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Portugal (ISCTE-UIL). Atualmente é professor na Universidade Federal de Sergipe e professor colaborador na Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisa sobre Processos Grupais, Valores, Normas Sociais, Racismo e Infra-humanização.
Resumo
O estudo das relações racializadas no Brasil é relativamente recente. Não obstante sermos o país fora do continente africano que tem a maior população negra do mundo; que tenhamos mais de 600 mil indígenas e que desde o início da nossa formação nacional a miscigenação – o encontro entre grupos humanos diversos – tenha sido a nossa principal marca identitária, o interesse das ciências sociais brasileiras pelo racismo, um dos principais dos efeitos colaterais do encontro com o outro diferente, é muito recente.
Desde suas primeiras teorizações o racismo no Brasil é representado num espectro que opõe as explicações com base nas diferenças de classe às explicações baseadas nas diferenças raciais. Gilberto Freyre e Florestan Fernandes são figuras emblemáticas desses embates teóricos. Essas formulações avançam desde a tese do class-over-race até as noções de "pigmentocracia", isto é, de uma pirâmide social que agrega em seus estratos elementos de cor e de classe. Nas investigações que temos conduzido, numa perspectiva psicossocial, temos verificado que cor da pele e estrato econômico têm ambos e de modo indissociável impacto no racismo do Brasil e afetam profundamente o debate atual sobre Políticas de Ação Afirmativa para os negros no país. Nessa comunicação apresentaremos evidência empírica das relações entre cor e classe na configuração do racismo à brasileira e discutiremos seus impactos nos posicionamentos dos brasileiros sobre a expansão dos direitos sociais da população negra.