Seminário sobre “A prática etnográfica na cultura e comunicação: vantagens, dilemas e desafios”

Realizou-se no dia 1 de junho (17h00), na sala de atos do ICS-UMInho, um seminário sobre "A prática etnográfica na cultura e comunicação: vantagens, dilemas e desafios", que contou com as presenças de Isabel Travancas ("Antropologia da comunicação: etnografias de produção e de receção jornalística") e de Carla Cerqueira ("Contribuições da etnografia para o estudo das ONG de cidadania e igualdade de género"). Foi organizado por Carla Cerqueira, no quadro do CECS, em parceria com o Doutoramento em Ciências da Comunicação e o Doutoramento em Estudos Culturais.

O objetivo desta comunicação foi discutir a relação entre a antropologia e a comunicação de massa. Analisar os meios de comunicação, seus conteúdos, seus produtores e seus receptores através do olhar da antropologia tem sido enriquecedor para o mundo da comunicação. Ao utilizar suas metodologias como a etnografia com seu trabalho de campo, as entrevistas em profundidade e a observação participante para entender o funcionamento dos jornais ou as formas de ver televisão, por exemplo, as pesquisas antropológicas tem complexificado esse campo e evitado analisá-lo através de uma lógica binária, denominada por Umberto Eco "apocalípticos e integrados".

Foram apresentadas duas pesquisas distintas. A primeira, uma etnografia do mundo dos jornalistas, que foi realizada em jornais do Rio de Janeiro, onde se acompanhou as rotinas destes profissionais discutindo com eles o seu papel na sociedade e o lugar da profissão em suas vidas. Foi realizado um estudo aprofundado desses profissionais, das suas especificidades, do seu estilo de vida e de sua visão de mundo;; a segunda investigação consistiu num estudo de recepção com jovens universitários do Rio de Janeiro de diferentes faculdades e classes sociais. O objeto em questão foi o "Jornal Nacional", principal telejornal brasileiro da Rede Globo de Televisão no ar desde 1969 e com mais de 20 milhões de telespectadores. A pesquisa consistiu em assistir ao noticiário com esses jovens, na maioria das vezes em suas casas, dialogando com eles sobre o programa, ouvindo suas impressões e buscando entender a dimensão da televisão em suas vidas e do jornal em suas percepções do mundo.

Isabel Travancas é professora adjunta da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Eco-UFRJ. Jornalista, é mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional-UFRJ e doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autora de "O mundo dos jornalistas" (1993), " O livro no jornal"(2001) e "Juventude e televisão" (2007).

Título intervenção de Carla Cerqueira: Contribuições da etnografia para o estudo das ONG de cidadania e igualdade
Nesta intervenção, a investigadora partiu de um estudo que está a ser realizado com organizações não-governamentais e outros coletivos que operam no campo da cidadania e igualdade de género para refletir sobre as contribuições da etnografia para esta área de investigação. O objetivo central do projeto passa por perceber as estratégias de comunicação interna e externa destas organizações e centra-se numa triangulação metodológica. Abarca organizações muito diversas, quer em termos de dimensão, quer em termos de estruturas e estratégias de atuação, as quais implicam um trabalho de campo que passa pela observação de vários espaços e iniciativas, pela análise de diversos documentos e materiais produzidos e por entrevistas.

Carla Cerqueira é bolseira de pós-doutoramento da FCT e investigadora do CECS. Doutorada em Ciências da Comunicação, o seu trabalho de investigação centra-se no campo dos estudos de género e média. É também professora auxiliar na Universidade Lusófona do Porto.