Simonetta Luz Afonso: “Há muitos temas para tratar. Não tratem sempre dos mesmos”

“Portugal e as suas Circunstâncias: Da Cultura, da sua internacionalização e da criação de novos Públicos” foi o mote para a conferência de Simonetta Luz Afonso, na sessão de abertura dos doutoramentos de Ciências da Comunicação e de Estudos Culturais, no passado dia 12 de outubro.

A responsável pela organização de exposições como o Festival Europalia 91 ou o Pavilhão de Portugal na Expo’98 foi apresentada pela presidente do Instituto de Ciências Sociais, Helena Sousa, e começou por alertar os doutorandos presentes de que “há muitos temas para tratar. Não tratem sempre dos mesmos”, referindo-se aos projetos doutorais a que cada um terá que dar início neste novo ano letivo.

Simonetta Luz Afonso deu o seu contributo de um ponto de vista histórico, conduzindo os presentes para uma viagem no tempo. Os anos 70 foram o ponto de partida: altura em que Portugal não era um país reconhecido mundialmente, senão pela sua relação com as ex-colónias. Simonetta lembrou que a Revolução dos Cravos, a 25 de abril de 1974, deu início a uma nova imagem de Portugal: “foi um marco incontornável no nosso país”. “Só éramos conhecidos pela revolução sem sangue, o resto era negativo”, reforçou.

“Não havia forma de comunicação da cultura de Portugal” e “era preciso fornecer os eventos para que os outros nos conhecessem”, explicou Simonetta sobre um tempo em que “não havia internet”. Dos anos 70 caminhou até à década seguinte, em que Portugal se tornou mais conhecido com a entrada na União Europeia, em 1986. “A comunicação consegue-se fazer mesmo sem Internet. Nós é que pensamos que não”, salientou a historiadora, recordando que, já no passado como no presente, era importante “incentivar as crianças a apropriarem-se dos espaços culturais”.

Passando para a década de 90, Simonetta Luz Afonso falou da sua experiência enquanto responsável pela organização do Pavilhão de Portugal, na Expo’98. “Fizemos cidade”, afirmou com orgulho, acrescentando: “outros colegas do mundo passaram a olhar para nós como pares”. Desta forma, para Simonetta, mudou-se a ideia de Portugal estabelecida até então.

Quanto ao futuro, Simonetta Luz Afonso deixou algumas ideias-chave: “quem não aparece, esquece”, pelo que é necessário apostar em eventos, mesmo que não tenham a mesma dimensão da Expo’98. A convidada dos programas doutorais associados ao CECS lembrou ainda que “é preciso perceber o que está mal, o que não foi feito e em que podemos ajudar”.

[Texto publicado a 15-10-2018]