Realizaram-se no dia 20 de março (14h30), na sala de atos do ICS da UMinho (Braga), as provas de doutoramento em Estudos Culturais (especialidade de Comunicação e Cultura) de Isabel Moreira Macedo. A tese tem orientação de Rosa Cabecinhas, Professora Associada do Departamento de Ciências da Comunicação da UMinho e investigadora do CECS, e tem por título “Migrações, Memória Cultural e Representações Identitárias: A Literacia Fílmica na Promoção do Diálogo Intercultural”.
Segundo Isabel Macedo, esta investigação tem como objetivo discutir o papel do cinema na difusão e na (re)construção crítica de visões sobre o ‘Outro’: “Examinámos as representações veiculadas pelo documentário fílmico português no período compreendido entre 2007 e 2013 e explorámos o modo como os jovens interpretam conteúdos fílmicos. De modo a contextualizar a nossa abordagem, recorremos à análise documental das orientações internacionais relativas ao papel dos média nas representações difundidas sobre as populações migrantes e as minorias; investigámos também a legislação nacional sobre cinema e audiovisual e os documentos referentes à produção fílmica portuguesa. Selecionámos um corpus de documentários para um estudo mais aprofundado e entrevistámos os respetivos realizadores. Desenvolvemos ainda grupos focais com estudantes do ensino secundário, analisando o modo como interpretam o filme Li Ké Terra (2010). Por fim, entrevistámos professores envolvidos na coordenação de escola do Plano Nacional de Cinema (PNC), auscultando as suas opiniões sobre o papel do cinema no processo educativo”.
Os documentários analisados difundem um conjunto de representações que podem contribuir, quer para a desconstrução, quer para o reforço de determinados estereótipos sociais. Verificámos que os jovens participantes nesta investigação, sem experiência direta do passado colonial, mobilizam estereótipos que lhes foram transmitidos no processo de socialização, nomeadamente, pela família, pela escola e pelos média, quando refletem sobre as relações interculturais. Os dados explorados apontam para a persistência de expressões de racismo e para a associação das pessoas negras à criminalidade, à agressividade e à falta de agência. São mobilizadas ainda representações relacionadas com o ‘mito lusotropicalista’ e a suposta ‘imunidade’ da sociedade portuguesa ao racismo.
Enquanto agentes de mudança social, o cinema e a escola podem assumir um papel ativo no processo de desconstrução crítica de visões sobre o ‘Outro’. Tendo verificado que os participantes neste estudo atribuem ao cinema um papel central nos processos de ensino/aprendizagem, importa introduzir o tema dos racismos e das relações interculturais nas atividades do PNC. Esta iniciativa poderá contribuir, a longo prazo, para uma cidadania mais crítica, reflexiva face aos conteúdos mediáticos e para uma literacia fílmica multicultural e ‘descolonizadora’ de imaginários e representações.