Entrevista com Kadydja Chagas: o tempo de doutoramento

Kadydja Chagas estuda o tempo de doutoramento e os seus significados. A docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) encontra-se, neste momento, a desenvolver um projeto de pós-doutoramento sobre esta temática. Com a investigação espera contribuir para o “desenvolvimento de estratégias que articulem o tempo vivenciado e a produção científica no doutoramento”.

E- Pode falar-nos um pouco do seu trajeto académico?
K- Sou Kadydja Karla Nascimento Chagas, professora doutora e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN. Estudo estratégias metodológicas para facilitar o processo de ensino aprendizagem pela via da ludicidade. Após tantas experiências de sucesso com públicos diferentes, proponho uma metodologia de forma sistematizada na perspectiva da educação sensível, que tem como base teórica a ludicidade, a criatividade e a sensibilidade. Este estudo é resultado de 20 anos de trabalho em sala de aula, do Ensino Infantil à Pós-Graduação, que foi desenvolvido a partir da reflexividade histórica e vivencial entre minha experiência docente e convivências com os processos de formação e autoformação dos alunos.

E- Qual é o tema principal da sua investigação de pós-doutoramento?
K- O tema da minha pesquisa é o “tempo de doutoramento e os seus significados: expectativas, vivências e desenvolvimento estratégico”, sob a orientação da professora Emília Rodrigues Araújo, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS).
Nesta investigação busco compreender o tempo de doutoramento vivido e seus significados para os orientandos da Universidade do Minho (Portugal) e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (Brasil).
É um estudo relevante devido à escassez de reflexões que abordem o tempo de doutoramento e tempo vivido. A perceção da temporalidade, nessa perspetiva de doutoramento, pode ser considerada uma forma de ampliar as questões e preocupações peculiares ao desenvolvimento acadêmico na pós-graduação stricto sensu.

E- Refere várias vezes no seu trabalho que a flexibilidade é relevante para a qualidade de um trabalho académico. Pode explicar?
K- Percebe-se que há uma ideia de que os trabalhos acadêmicos com qualidade e rigor científico caminham ao lado da inflexibilidade. Esse entendimento provoca uma série de reações negativas no processo de produção científica. Compreende-se que podemos associar as exigências acadêmicas à reflexividade histórica e vivencial de cada discente que se encontra em processo de formação. Dessa forma, conseguimos identificar que aspectos na orientação necessitam de ajustes e maior atenção para que não comprometam um trabalho acadêmico de qualidade. Nesse sentido, associamos o rigor científico à empatia e sensibilidade no processo de produção científica, com a flexibilidade necessária e possível para a finalização do processo acadêmico-científico, promovendo empatia, motivação e envolvimento com a pesquisa em desenvolvimento.

E- De que modo a investigação que desenvolve contribui para a mudança de práticas?
K- A contribuição da investigação para a mudança de práticas ocorre com o desenvolvimento de estratégias que articulem o tempo vivenciado e a produção científica no doutoramento, atendendo às expectativas dos orientandos e orientadores.​

E- Atendendo ao trabalho que desenvolve, quais seriam os conselhos que daria aos estudantes que preparam projetos de mestrado e de doutoramento hoje?
K- Estar motivado (a) com o que pretende pesquisar; permitir-se ao novo, ao inusitado, à desconstrução; ser objetivo (a) e determinado (a); ter uma relação de empatia com o orientador (a); promover o hábito da leitura e da escrita científica; investir em estratégias para gestão do tempo no processo da produção científica e vivenciar uma educação sensível no processo de desenvolvimento científico.
Vou utilizar um conselho que minha orientadora de doutorado, professora Dra. Rosário Carvalho me disse no primeiro dia de orientação: tese é meio de vida e não de morte. Portanto, utilize o tempo da forma que achar melhor para produzir conhecimento. Caso não produza nada no primeiro ou segundo ano, não há problemas, mas saiba que o prazo final se dá em três anos e você terá que concluir o processo.
Isso me fez refletir e investir em uma gestão de tempo que sempre me fosse favorável na produção científica.