Mais de 25 após a sua primeira publicação, a segunda edição do livro “O olho de Deus no discurso salazarista”, de Moisés de Lemos Martins, foi apresentado na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga (5 de abril, 21h30). José Bragança de Miranda (Universidade Nova de Lisboa) e Bernardo Pinto de Almeida (Universidade do Porto), que falaram sobre a obra, coincidiram na ideia de que se trata de uma publicação atual, que olha para o discurso e o poder, numa altura em que se verifica que o salazarismo não morreu. Daí a premência do livro, que nos convoca para a análise do presente.
A necessidade em publicar o livro decorreu do facto de se tratar de um sucesso editorial há muito esgotado. E, segundo José Bragança de Miranda, com a vantagem de, hoje, o país estar mais preparado para a sua leitura do que antes, numa altura em que afirma que o salazarismo não morreu: “Quando o livro saiu não havia quadro para o ler. Navegava-se entre o marxismo abstrato e o positivismo, que acabou por se impor. O país viu casarem-se, nos anos 70, marxistas e positivistas, situação que nunca nos abandonou”. Já Bernardo Pinto de Almeida assinalou que o livro continua a ser uma necessidade, “talvez hoje mais pertinente do que antes”, evidenciando que “tem um caráter premonitório quando aborda as práticas discursivas e as relações de poder”. E, justifica, com a ideia de que o salazarismo não acabou, estando “um pouco por toda a parte e é preciso desmontar isso”, aproveitando a oportunidade fundamental deste livro: “atualizar o debate”. Como escreve o autor no prefácio da obra, o destino da pátria residia em fazer o povo ‘viver habitualmente’, sendo que, o que perturba na leitura do livro, segundo Bernardo Pinto de Almeida, é o facto de ele permanecer atual: “porque a análise do livro é a análise do presente”.
A obra, publicada pela Afrontamento, reproduz a tese de doutoramento, defendida por Moisés de Lemos Martins na Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, em 1984. Trata-se de um estudo sobre o regime discursivo dominante em Portugal durante o Estado Novo, nos anos 30 e 40 do século XX, um estudo que interroga a política geral do sentido salazarista, que o mesmo é dizer, o seu regime de verdade. E foi porque se colocou a questão do regime de verdade salazarista que Moisés de Lemos Martins encarou o discurso como uma prática política disciplinar, que se exerce sobre a memória histórica, sobre o olhar, sobre o desejo e sobre a vontade.