Os desafios dos feminismos em discussão

Quais os desafios dos feminismos no início do século XXI? O que torna hoje o feminismo um movimento social aparentemente forte, plural e cada vez mais visível, e quais são os perigos (se existem) dessas formas de visibilidade? Quais as lutas quotidianas que se mantêm invisíveis? Estes foram alguns dos desafios lançados à (auto)reflexão no dia 11 de outubro de 2017 durante mais um encontro no âmbito do Seminário Permanente de Comunicação e Diversidade, promovido pelo CECS da Universidade do Minho em colaboração com a Universidade Feminista e a Civitas Braga e com o apoio da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Da mesa redonda fizeram parte Ana Gabriela Macedo Liliana Rodrigues, Tatiana Mendes e Geanine Escobar, numa sessão dinamizada por Camila Craveiro e Carla Cerqueira.

Ana Gabriela Macedo, docente e investigadora da Universidade do Minho na área dos estudos estudos feministas, propôs uma reflexão sobre a forma como a indústria da moda, sobretudo nos EUA, tem absorvido o rótulo Feminism, bem como alguns dos seus “chavões”, e das implicações que essa apropriação tem, ou não, nas lutas quotidianas das mulheres. Conceição Nogueira, docente e investigadora da Universidade do Porto no campo da psicologia feminista, brindou as pessoas presentes com um exercício autorreflexivo sobre a necessidade de se permanecer atenta devido à própria exigência e complexidade das lutas feministas. Liliana Rodrigues, docente do ISAVE – Instituto Superior de Saúde e ativista em várias organizações de direitos humanos,  secundou-a, colocando na mesa de discussão a dificuldade de se ser feminista sempre de forma coerente, sendo a vida privada também uma questão política. Tatiana Mendes, técnica e ativista da UMAR, lembrou de forma acutilante que quem faz ativismo social se vê obrigado, por vezes, a flexibilizar bastante a teoria sob pena de não ser eficaz. Por fim Geanine Escobar, doutoranda em estudos culturais e ativista negra e lésbica, trouxe para o centro do debate o feminismo negro e as suas especificidades, numa aproximação interseccional aos feminismos – aglutinando na sua intervenção ideias que estavam presentes desde o início do debate, na medida em que as opressões de classe, de raça, de orientação sexual, etc. potenciam a opressão de género e deste modo invisibilizam muitas mulheres e fazem portanto da luta pela igualdade de género uma tarefa não só difícil, mas assaz complexa.

Uma sala cheia de pessoas feministas participou ativamente no debate mostrando como diferentes percursos identitários promovem estratégias de luta diversas, assentes em diferentes lugares de fala. Durante cerca de 3 horas na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva reproduziram-se, nas intervenções das participantes, uma parte das complexidades que atravessam os nossos dias, as suas (in)visibilidades e (in)visibilizaçãoes o que permitiu às presentes um exercício de auto-questionamento que só pecou por ser curto.

Muito mais ficou por debater e ainda outros feminismos por abarcar no debate. Fica para uma próxima sessão.

 

Texto: Ana Catarina Pereira, Camila Craveiro e Carla Cerqueira

Fotos: Carla Cerqueira