Poderia esperar-se que falasse sobre as inúmeras transformações tecnológicas por que tem passado o jornalismo ao longo dos últimos dois séculos. Na aula aberta de Jornalismo Especializado que conduziu na Universidade do Minho, no dia 23 de abril, Elias Machado focou-se, no entanto, nos sentidos mais amplos que pode sugerir o conceito de inovação.
Recusando uma conotação exclusivamente tecnológica, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) entende que é preciso alargar o conceito de inovação. Aos alunos de graduação e pós-graduação em Ciências da Comunicação lembrou que o próprio jornalismo especializado é uma inovação do jornalismo, tal como a notícia foi uma inovação jornalística do final do século XIX, já que até então o jornal se fazia sobretudo de géneros mais literários.
Se a organização das redações, a criação de empresas jornalísticas, escolas de jornalismo e agências noticiosas, a formalização da figura do correspondente e a ideia de objetividade são inovações que estão ligadas ao processo de profissionalização do jornalismo, hoje é nas redes sociais que está o tom da inovação. É aí, segundo Elias Machado, que se manifestam outros sinais de renovação, que mais não são, na perspetiva do investigador brasileiro, do que tentativas do jornalismo para sobreviver. Numa história de inovações, de adaptações, de criação de géneros e procedimentos, o jornalismo estende-se por novas modalidades que se exprimem no chamado “jornalismo de precisão”, “jornalismo público”, “jornalismo do cidadão”, “jornalismo alternativo” ou “jornalismo popular”.
Para Elias Machado, “toda a história do jornalismo é uma história de inovações”, mas “a má notícia é que hoje o jornalismo não é mais o que estrutura a esfera pública”. São as redes sociais e os oligopólios de comunicação que hoje dominam os fluxos de informação, porque, se o jornalismo enquanto instituição está deslegitimado, “é compreensível que apareçam outras instituições que garantam a vigilância”.
Um dos perigos que hoje representa a crise do jornalismo é, por isso, o da hegemonia do que identifica como “jornalismo de campanha”. De acordo com o professor de Florianópolis, “os temas padronizados do jornalismo são bem o sintoma de que se faz atualmente um jornalismo concertado com agendas políticas”. E o modelo de negócio do jornalismo consiste “cada vez mais em promover campanhas”. É nesta nova forma cultural, que pode inclusive ceder à publicação de informações falsas, que, para Elias Machado, o jornalismo se perde da função original de questionar a realidade.