Terá lugar, no próximo dia 22 de setembro, pelas 18h30, via Zoom, o primeiro seminário de Cultura Visual do ano letivo 2022/2023. “Não a verdade talvez dos fatos, mas seu encantamento” é o tema a ser discutido por Andréa C. Scansani, da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil).
“A imagem no cinema, na imensa maioria das vezes, apresenta-se de maneira transparente, discreta e sóbria. É elaborada a favor de uma narrativa que reina soberana e qualquer destaque dado às suas particularidades pode interromper a desejada fruição das ideias concatenadas na obra. A sua submissão ao mundo das histórias é incontestável e, compreensivelmente, conveniente. No entanto, mesmo que a sua matéria não seja explícita, o que macularia o seu caráter cristalino e servil, é sobre ela que a história do cinema se constrói. É nela (matéria) que os gestos cinematográficos (movimentos de câmara e de atores, cenários, cores, texturas etc.) são inscritos no filme e é através dela que a sua força cinética é transportada. Uma matéria plástica, cuja maleabilidade se torna um instrumento de criação e que, ao longo da história do cinema, foi explorada das mais diversas maneiras. Sendo assim, trazemos para esta conversa a análise de um pequeno e esquecido filme paraguaio, El pueblo (Carlos Saguier, 1969), que escapa às classificações de gênero e goza de livre trânsito entre os campos do documentário e da ficção, entre fatos e crenças e entre temporalidades materiais e atemporalidades espirituais. Ao abordar a história de um país marcado por reiteradas guerras que o deixam com uma “grande catástrofe de lembranças” (Roa Bastos) o filme sugere uma síntese de um tempo não linear, cíclico, numa cadência elaborada em camadas de tempo sobrepostas num passado-presente-futuro esculpidos na terra, nas peles secas e pés descalços que desenham os volumes desse corpo chamado cinema”, resume Andréa C. Scansani.
O seminário será moderado por Martin Dale, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
Andréa C. Scansani é graduada em Cinema pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), com especialização pela Academia de Filme e Drama de Budapeste (Szinház-és Filmmüvészeti Föiskola, SFF), Hungria. Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e doutora pelo Programa em Meios e Processos Audiovisuais da Universidade de São Paulo (PPGMPA/USP) com período de estudos na Paris 3 (Sorbonne Nouvelle), França. É Professora Adjunta do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As suas pesquisas estão voltadas, atualmente, para os cinemas latino-americanos e caribenhos com ênfase na filmografia paraguaia. Tem ampla experiência acadêmica e profissional na área da imagem cinematográfica, com publicações em torno da teoria da imagem, fotografia, cinematografia e cinemas latino-americanos. É membro dos grupos de pesquisa, certificados pelo CNPq, Cinematografia Expressão e Pensamento (GPCEP) e Mídias, Afetos, Artes e Resistência (MAAR)
Martin Dale é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, com licenciatura e mestrado em Filosofia, Política e Economia da Universidade de Oxford e bolseiro Thouron no mestrado de Comunicação da Annenberg School of Communications, Universidade de Pennsylvania, EUA. Ensina nas áreas de cinema e audiovisual. Produtor e realizador de documentários e filmes promocionais. Tem trabalhado como consultor para o BBC, ICA, RTP, Tobis e Ministério de Cultura. Perito e avaliador para a Comissão Europeia no âmbito de Horizon2020. Publicou dois livros sobre a indústria cinematográfica “Europa, Europa” (1992) e “The Movie Game” (1997). Jornalista para a revista americana de cinema, Variety. Tradutor profissional de textos acadêmicos, jurídicos, de cultura e de arte contemporânea.
Este seminário tem o objetivo de promover um espaço de reflexão sobre os regimes de visibilidade da cultura contemporânea. A iniciativa pretende reunir investigadores que problematizem as diversas formas de produção de imagem e o seu papel nos processos de comunicação.