Terá lugar, no dia 25 de fevereiro, pelas 17h00, o próximo Seminário Permanente em Estudos Pós-Coloniais. Intitulada “Ativismo em Angola: manual de resistência”, a sessão conta com a moderação de Joana Fonseca, da Universidade de Coimbra, e com a participação de Adolfo Maria, nacionalista angolano e dos ativistas angolanos, Laurinda Gouveia e Hitler Samussuku.
Este seminário pretende promover o diálogo entre duas gerações de resistentes e ativistas angolanos, procurando, nos seus testemunhos, métodos e técnicas de proteção da privacidade e segurança pessoal que tenham desenvolvido à força da experiência. Tendo em conta a renovação do sistema de segurança angolano, do qual o novo Centro Integrado de Segurança Pública, com as suas 400 câmaras de vigilância olhando Luanda, é urgente debater a necessidade de reconfiguração e adaptação das formas de luta às novas tecnologias aplicadas ao controlo do espaço público.
Para contemplar a especificidade dos condicionamentos políticos e sociais de uma Angola diversamente particular ao longo da sua História, oferecendo uma lata cobertura da vivência e experiência do autoritarismo, a sessão conta com os contributos de representantes de duas gerações e dois momentos da dissidência angolana.
Na representação da luta política armada pela Independência de Angola estará presente Adolfo Maria, preso e exilado político que manteve atividade além independência, na promoção da cultura e da reflexão. É autor de extensa obra sobre a vasta experiência que vai de uma Angola da ditadura colonial à Angola da ditadura netista, sob o olhar ativamente atento sobre o trilho que abriu.
Representando o ativismo contemporâneo, que acorda em 2011, participarão Laurinda Gouveia e Hitler Samussuku, filhos da ditadura eduardista. São dois dos rostos do caso 15+2, presos políticos na sequência da acusação de tentativa de Golpe de Estado, que desde então têm dado voz às mais diversas reivindicações civis, colaborando e complementando-se na resistência.
Adolfo Maria foi um combatente da luta “armada, política e cultural” pela independência de Angola, luta que mantém viva na promoção da cultura e da reflexão. Na década de 60, no exílio, funda o Centro de Estudos Angolanos em Argel, e coordena a Rádio Angola Combatente. Em 70s, a participação na Revolta Ativa, uma tendência do MPLA, obriga-o, já no pós-independência, condu-lo a um confinamento, a uma prisão e à expulsão para Portugal. Em 80s cria um grupo de reflexão sobre a guerra civil angolana e, desde então, tem assinado e coordenado uma extensa obra, de não-ficção, ficção e poesia, dos quais destaco Angola – Sonho e Pesadelo (2014) e Angola – A Hora da Mudança.
Laurinda Gouveia é licenciada em Filosofia e presa política do caso 15+2, tornou-se um dos poucos rostos femininos do ativismo contemporâneo em Angola. É, atualmente, membro da equipa de coordenação do Ondjango Feminista, o primeiro movimento feminista angolano, e cofundadora do novo Coletivo Unidas Somos Mais Fortes. É repórter cívica do projeto Central Angola 7311 e dinamizadora da Biblioteca 10padronizada.
Hitler Samussuku é licenciado em Ciência Política e, tal como Laurinda Gouveia, preso político no caso 15+2, sob acusação de tentativa de Golpe de Estado. O seu ativismo tem-se traduzido na disseminação de informação via Central Angola 7311, e na promoção da participação cívica através de projetos como o Movimento Jovens pelas Autarquias, do qual é cofundador, da Associação Cívica Handeka, da qual é vice-presidente, e do projeto mOm – monitorar o município, que coordena. É rapper e membro do grupo de Hip Hop “Terceira Divisão”.
Joana Bárbara Fonseca é licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos, é investigadora do Centro de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde conclui o doutoramento em Materialidades da Literatura. Tem desenvolvido uma investigação no âmbito dos Estudos de Vigilância, especificamente focado nas novas tecnologias aplicadas à monitorização e controlo do cidadão e do espaço público em regimes totalitários, bem como na resistência e dissidência civil neste contexto.
A sessão decorrerá via Zoom.