Seminário sobre jornalismo praticado por meios alternativos em conteúdos audiovisuais

A próxima sessão do Seminário Permanente de Comunicação e Diversidade decorrerá no dia 1 de julho, às 14h30, na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Intitulada “De um lado só: o jornalismo praticado por meios alternativos em conteúdos audiovisuais”, esta sessão conta com a presença de Kamila Bossato Fernandes, investigadora do CECS que analisará conteúdos de 45 vídeos produzidos por 25 grupos de média alternativa do Brasil, de Portugal e da Espanha. A moderação estará a cargo de Sylvia Moretzsohn, ex-jornalista e pós-doutoranda do CECS.

Cada vez mais grupos de média alternativa que atuam no ambiente digital se apresentam como produtores de informação alternativos ao mainstream, com uma atuação que busca, entre outras coisas, dar visibilidade a grupos e sujeitos socialmente subjugados, para gerar transformações sociais (Atton & Hamilton, 2008; Forde, 2011; Rodriguez, 2001). Contudo, em que medida essa prática comunicacional reafirma, modifica ou até transgride os valores que orientam o jornalismo tradicional? Em ascensão, os estudos sobre o jornalismo alternativo não têm dado atenção a esta questão, detendo-se mais a estudos de caso que evocam as fontes de informação (Atton & Wickenden, 2005) e a visão dos próprios jornalistas alternativos sobre o seu trabalho (Harcup, 2015), e não no conteúdo produzido, muito menos quando falamos de produções audiovisuais. Para respondê-la, proponho nesta apresentação discutir as estratégias discursivas aplicadas na construção de vídeos do jornalismo alternativo, tendo como parâmetros os cânones éticos e estéticos difundidos pelo jornalismo tradicional(Broersma, 2007; Schudson, 2001; Ward, 2004).

A discussão terá como base conteúdos de 45 vídeos produzidos por 25 grupos de média alternativa do Brasil, de Portugal e da Espanha, que serão analisados a partir de conceitos da análise crítica do discurso (Fairclough, 2001), bem como da multimodalidade (Ledin & Machin, 2018; Van Leeuwen, 2014). A discussão é relevante tanto por colocar em pauta práticas comunicacionais alternativas de países não-anglófonos, ainda sub-investigadas, como também por abordar mudanças na própria prática jornalística, sobretudo em tempos de mediatização profunda como a vivida na contemporaneidade (Couldry & Hepp, 2017; Silverstone, 2007), em que o jornalismo disputa o espaço do ecossistema mediático com novos atores e vive uma crise sem precedentes (Luengo, 2014; Nerone, 2015). Entre os pontos a serem destacados, identificamos que os conteúdos dos meios alternativos analisados dão protagonismo a ativistas e pessoas comuns, omitem o chamado “outro lado” e utilizam poucos dados para embasar as informações. Ainda assim, tais produções buscam aplicar uma narrativa que preserva uma certa objetividade performática (Broersma, 2010), ao destacar as imagens como prova maior da verdade do relato, o que demonstra potencialidades, mas também fragilidades dessa prática comunicacional para expandir seu alcance e gerar transformações sociais efetivas.

Kamila Bossato Fernandes é estudante do doutoramento do Programa FCT em Estudos de Comunicação, com bolsa FCT, sob orientação da professora Anabela Carvalho, e pesquisadora do CECS. Atuou como jornalista em meios de comunicação do Brasil, durante 13 anos. É também mestre em sociologia e, desde 2012, é professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.

Sylvia Moretzsohn é professora aposentada da Universidade Federal Fluminense, onde trabalhou por 23 anos. Formou-se em jornalismo pela UFRJ e atuou na profissão ao longo da década de 1980, quando participou pela primeira vez da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e colaborou na edição do livro “Jornalistas pra quê? Os profissionais diante da ética”. É mestre em Comunicação pela UFF (2000), doutora em Serviço Social pela UFRJ (2006) e há seis meses iniciou um estágio pós-doutoral no CECS/Universidade do Minho, que se estenderá até 2020. Sua atividade de pesquisa atual relaciona as raízes da conformação do senso comum e a tendência ao autoengano às transformações tecnológicas que configuram a comunicação contemporânea, com o objetivo de buscar formas de desmontar os mecanismos de produção social da ignorância através do exercício do jornalismo e da educação para a mídia.

[Publicado: 28-06-2019]